sábado, 7 de março de 2009

A Bandeira de Prata da Mobilidade para Alcochete - POR AS COISAS EM PRATOS LIMPOS

Foi com enorme alarido propagandístico que o Presidente da Câmara Municipal de Alcochete anunciou a distinção do município com a Bandeira de Prata da Mobilidade atribuída pela Associação Portuguesa dos Planeadores do Território. Desde o site institucional da CMA , passando pelo Jornal de Alcochete até ao Boletim Mensal de Informação da CMA , o «In Alcochete» , foi um «ver se te avias» na utilização da distinção atribuída pela APPT como propaganda que atenuasse um pouco a imagem negativa em torno do mandato camarário.
Quem tiver lido as noticias em torno da atribuição desse prémio pode ter ficado com a sensação de que Alcochete é uma espécie de modelo ou de bom exemplo no panorama nacional no que respeita às preocupações com a mobilidade urbana.
Contudo se eu informar os visitantes do Alcochetanidades que nos últimos meses a referida APPT distinguiu com o mesmíssimo galardão inúmeros municípios , começamos a desconfiar do verdadeiro propósito inerente a este prémio.
Assim a APPT distinguiu nos últimos meses os seguintes municípios com a Bandeira de Prata da Mobilidade:
Oeiras , Cascais , Marinha Grande , Vila Real , Oliveira de Azeméis , São João da Madeira , Arruda dos Vinhos , Loulé , Aveiro , Bombarral , Sintra , Évora , Póvoa do Varzim , Torres Vedras , Penafiel , Entroncamento , Setúbal , Matosinhos , Albufeira , Caldas da Rainha , Santa Maria da Feira , Guarda , Pinhel , Leiria , Portimão , Estarreja , Oliveira do Bairro , Tavira , V.R.Santo António , Mafra , Chaves , Lourinhã , Lamego , Lagos , Barcelos , Figueira da Foz , Santarém , Gaia , Maia , Fafe , Faro , estando na calha outros tantos munícipios.
Perante este cenário , das duas uma. Ou os nossos munícipios são exemplares em matéria de mobilidade justificando que a APPT atribua a «torto e a direito» Bandeiras de Prata da Mobilidade , ou esta iniciativa não passa de uma manobra de charme junto das autarquias por parte daquela Associação que depois é aproveitada pelo marketing politico das autarquias.
Infelizmente estou mais tentado a acreditar na segunda hipótese.
Conforme denunciei no Praia dos Moinhos num texto publicado em 07.08.2008 intitulado «URBANISMO EM PORTUGAL…UMA MIRAGEM », a verdade é que uma aparente conspiração informal entre políticos, autarcas, construtores civis, arquitectos e outros não identificados marginalizou quase por completo os urbanistas. Os poucos que restam vivem na semi-clandestinidade e desemprego. Andam pelas ruas das cidades que não planeiaram de cabeça baixa.
Em contrapartida os arquitectos proliferam, têm fama, são geniais e muitos deles são pagos a preço de ouro para nos «impingirem» os monumentos da sua originalidade.
Em 1997 , numa carta aberta aos municípios portugueses , o presidente da referida APPT denunciava esta situação e exigia novas posturas aos municípios, seja na área da promoção do desenvolvimento ( do estratégico, que atrai investimentos, empregos, desenvolvimento,...), no ordenamento do território, na administração, planeamento e gestão urbanística, no planeamento dos sistemas viários, no ambiente e preservação dos recursos naturais, no planeamento do desenvolvimento rural.
Como dizia o presidente da APPT , é decisivo dotar as autarquias dos meios humanos e financeiras necessários para dar resposta a um crescente número de solicitações e a uma nova forma de gerir e administrar o território.
O surgimento de um número significativo de novas Licenciaturas na área do Planeamento e Ordenamento do Território, nomeadamente a Licenciatura em Planeamento Regional e Urbano da Universidade de Aveiro ( criada em 1983 e estruturada de acordo com os requisitos da AESOP (Association of the European Schools of Planning), formando profissionais de planeamento regional e urbano há dez anos e tendo no momento cerca de 130 profissionais no mercado de trabalho ) e o lançamento no mercado de trabalho de especialistas em planeamento territorial obrigou a APPT a intervir para uma mais fácil integração no mercado de trabalho desses novos profissionais , tarefa difícil em função do quadro conjuntural acima referido em que os arquitectos controlam ferreamente os departamentos de urbanismo das Câmaras Municipais .
Mais de 10 anos depois deste repto do presidente da APPT a situação não se alterou.
O que se alterou foi a estratégia da APPT que passou então à táctica do «não se apanham moscas com vinagre».
A atribuição da Bandeira de Prata da Mobilidade é pois uma tentativa legitima promover a profissão e de sensibilizar as Câmaras Municipais para a necessidade e utilidade de disporem de quadros licenciados em planeamento territorial. Mas vale pouco mais do que isto.
Não tenho nada contra esta estratégia da APPT.
Tenho é tudo contra o facto do Sr.Presidente da Câmara de Alcochete ,Luís Franco (Dr.) ter uma vez mais caído na tentação de branquear um mandato inepto com uma distinção cujo valor é amplamente relativizado por tudo aquilo que referi.
Afinal também não é na mobilidade que Alcochete se destaca dos demais municípios portugueses.

Sem comentários:

Enviar um comentário