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Fui durante 12 anos autarca noutro concelho.
Durante esse largo período de tempo travei nos jornais locais e nos órgãos autárquicos em que desempenhei as minhas funções duríssimas batalhas contra adversários políticos comunistas , socialistas e até do CDS.
Nessas batalhas politicas visei e fui visado com palavras duras , por vezes violentas dirigidas ao politico e às politicas , legitimamente proferidas no contexto da luta politica , contexto que exige daqueles que ocupam cargos políticos o poder de encaixe necessário capaz de lhes permitir enfrentar em termos adequados as criticas , repito , por vezes violentes , a que qualquer Politico digno desse nome , tem forçosamente de sujeitar-se.
Apesar da extrema dureza que esse combate politico envolveu em determinadas fases mais exacerbadas da agenda politica , a verdade é que nenhum dos intervenientes que conheci , em qualquer partido , confundiu o ataque politico com um ataque que visasse a sua singularidade como pessoa.
Fruto do respeito por esse principio , é com enorme prazer que ainda hoje reencontro em clima de grande amizade e até de saudosismo por essas lutas do passado , antigos adversários políticos desse concelho ,tendo inclusivamente chegado a ser advogado de alguns deles ( nomeadamente de dois autarcas comunistas ) durante um período que coincidiu precisamente com essas «batalhas» politicas , sem que tal prejudicasse essa relação profissional.
Vim para Alcochete por gostar da terra e por afinidades familiares.
Mas é porque GOSTO DE ALCOCHETE que intervenho politicamente , porque quero o melhor para esta terra que tanto gosto.
Foi com o espírito acima descrito que encarei a minha intervenção politica em Alcochete.
Tal opção revelou-se contudo totalmente inadequada ao contexto politico local.
Fruto de um período de quase 30 anos de poder exercido pelo mesmo partido neste concelho , Alcochete não desenvolveu um espírito de cultura democrática de tolerância que permita aos intervenientes políticos agirem no pressuposto que os ataques políticos não vão ser assumidos como ataques pessoais. O intervalo de quatro anos no exercício desse poder , ao invés de modelar no sentido positivo a cultura democrática alcochetana , parece , pelo contrário , ter acirrado a postura intolerante de quem julga ter direito genético ao poder eterno neste Concelho
Quando comecei a intervir nos Blogues , Praia dos Moinhos e Alcochetanidades , senti desde logo uma reacção desmesurada dos visados políticos , que manifestamente e de forma imprópria num contexto democrático normal , interiorizaram essas criticas como ataques pessoais.
Tal tendência exacerbou-se ainda mais quando a nova Direcção do PSD de Alcochete tomou posse em Outubro de 2008 e assumiu desde logo uma postura de oposição activa e visível ao poder instalado em Alcochete desde há décadas.
Neste últimos dias , fruto de maior visibilidade do PSD durante as Festas do Barrete Verde e das Salinas 2009 , visibilidade que teve o seu culminar com a disponibilização do Touro Mecânico que obviamente ainda chamou mais atenção para a presença laranja durante as festas , situação a que o poder comunista local estava pouco habituado , acentuaram-se as manifestações de incómodo e de nervosismo , bem evidenciadas pelo recrudescer de insultos e comentários neste blogue visando a minha pessoa e não a pessoa do politico da oposição.
Ainda há meia dúzia de dias uma alcochetana me dizia que «eu devia ser maluco e inconsciente» por fazer uma oposição tão declarada em Alcochete.
Sinceramente não a levei muito a sério , mas estou arrependido.
Na actividade politica há sempre aqueles que mais se expõem na intervenção nos jornais e nos blogues.
São os que mais dão a cara pelos respectivos partidos que mais facilmente se tornam alvo do combate politico. É absolutamente normal que assim aconteça.
Esses , mais do que os outros , devem estar preparados para perceber que tudo se passa no contexto da tal luta politica , e que atacam e são atacados como Políticos e não na singularidade das suas pessoas.
Luís Proença e Borges da Silva no caso do PSD , Luís Franco e Jorge Giro no caso da CDU.
Ontem , pelas duas da manhã , quando circulava na Rua Ruy Sousa Vinagre junto à Junta de Freguesia de Alcochete cruzei-me com um autarca comunista e candidato pela CDU nas eleições de Outubro.
Depois de me ter cruzado com ele senti um empurrão pelas costas.
Quando me tentava reequilibrar e voltar para perceber o que é que se estava a passar , o autarca comunista em causa , atingiu-me com um soco na face.
Não reagi , nem procurei desforço.
Desde há muito que aprendi que a diferença básica entre os animais e os homens reside essencialmente na nossa capacidade de gerir os nossos instintos básicos e primitivos.
Um Homem com H grande não é qualificado pela forma como usa os punhos contra adversários desprevenidos , mas sim pela superioridade que revela num contexto de adversidade quando mostra a si mesmo que ceder a instintos animalescos não é a melhor solução.
A verdade é que fui agredido fisicamente por um adversário politico.
Mais do que as lesões físicas resultantes dessa agressão , bem visíveis na foto e no sangue que manchou a camisola de campanha do PSD/Borges da Silva que trazia vestida , o que mais importa e mais interessa é a noção definitiva que adquiri que estou descontextualizado em termos políticos em Alcochete.
Aqui praticamente não há fronteira entre o conceito de adversário politico e de inimigo pessoal , conceito bem útil para quem tem o poder há quase 30 anos.
Mas mais do que estas minhas convicções interessa-me o bem estar daqueles que me são queridos e que verdadeiramente contam na minha vida , os quais têm vivido incomodados com os constantes insultos e avisos de que vou sendo alvo.
A agressão física de que fui vitima ontem tem um nome: VIOLÊNCIA POLITICA e com essa realidade eu não sei viver.
Estou em Portugal , terra em que o 25 de Abril de 1974 deveria ter sido sinónimo de tolerância e de cultura democrática.
PS: O meu muito obrigado aos bombeiros de Alcochete pela forma pronta e extremamente profissional como me assistiram depois da agressão.